3.2.15

Um belo par de raquetes


Deve andar algures pela garagem, entre tralha infinda. Um belo par... de raquetes! Com que joguei algo vagamente parecido com ténis, pontualmente, com o meu irmão, nos idos anos 80. Mais recentemente prefiro raquetes para os pés, em vez de para as mãos. Raquetes de caminhada, sobre a neve. É uma invenção antiga, muito antiga: acredita-se que tenham sido criadas 4000 a 6000 anos atrás, na Ásia Central. Incialmente com uma estrutura de madeira, foram sendo desenvolvidas sobretudo pelos povos indígenas da América do Norte, para caçar e para uma locomoção facilitada nos seus vastos territórios. Fast forward para o séc. XXI: com o advento dos materiais sintéticos, dos plásticos de alta resistência e da democratização dos desportos de montanha existem hoje modelos super leves, com ergonomia apurada e uma facilidade de utilização fenomenal!



Desde que as experimentei, pela primeira vez, quando trabalhei no Parque Nacional de Aiguestortes, no Pirinéus catalães, caminhando num campo nevado, no manto virgem da noite anterior, fiquei rendido a liberdade que proporcionam, à simplicidade na utilização, à maravilha que é pegar numa mochila, nuns bastões e partir pela montanha acima!

Mas nem tudo é linear no mundo das raquetes! A qualidade da neve condiciona fortemente a progressão no terreno e as adaptações que o montanhista tem de fazer ao caminhar. Em neve pó - demasiado fofa - facilmente nos enterramos até ao joelho, e cada passada torna-se um calvário, de esforço ao levantar a perna e toda a neve que fica acumulada na parte superior da raquete. Por outro lado, em dias particularmente frios ou quando a neve é já antiga, facilmente congela e a superfície torna-se uma pista de patinagem que nem os pequenos espigões metálicos na face inferior conseguem contrariar, sobretudo a descer - embora, por seu lado, possa ser extremamente divertido "esquiar" com raquetes, em encostas de pendentes fortes e neve muito dura e escorregadia! O ideal é uma neve compacta, nem demasiado fofa nem demasiado dura, com inclinações suaves, e - admito o egoísmo - virgem, sem que ninguém tenha ainda lá passado desde o último nevão, emprestando à caminhada aquela sensação de exploração, de distância à civilização, de solidão intensa, tendo por companhia apenas o vento da floresta, o chilrear esparso das aves invernais, a omnipresença dos picos lá no alto, como que velando por mim, no seu reino, permitindo, condescendentes, que penetre nos terittórios sobre os quais o seu poder é inquestionado!



Aliando a fotografia a esta liberdade raramente experienciada - ainda mais verdade para aqueles que não estão particularmente habituados a entrar no mundo da alta montanha - tem-se uma combinação sublime pela comunhão entre a maravilha natural e o fascínio tecnológico! Fotografar cristais de neve ou estalactites de gelo em macro, montar a ultra grande-angular e encapsular paisagens imensas num único fotograma ou perseguir furtivamente (e conscienciosamente!) pequenos chapins ou gaios que saltitam entre os galhos de afilados pinheiros, são experiências de uma simplicidade tal que só podem ser compreendidas depois de serem vividas...

É este o desafio que lanço aos que comigo viajam, a cada inverno, até ao sopé do Monte Branco, em Chamonix...


As imagens dest post foram realizadas no âmbito da viagem fotográfica Nomad que lidero em Chamonix - Inverno nos Alpes com António Luís Campos - que terá a sua próxima edição de 25 a 29 de Março de 2015.

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