31.1.15
A beleza da ausência
De regresso à base, neste reca(n)to que nos é tão familiar, após quase 3 semanas dos permanentes e intensos estímulos sensoriais que a América do Sul sempre proporciona, encaixo-me lenta e - diria até - dolorosamente num ritmo social radicalmente diferente. Alvo de reflexão muito em breve, sem dúvida!
Mas por agora as costas viram-se ao por-do-sol e o olhar aponta a Leste, a um horizonte alvo, agreste, límpido. Dentro de poucas semanas estarei a caminho dos Alpes, para mais uma edição da viagem fotográfica Inverno nos Alpes, com um grupo Nomad. É a mais curta das minhas viagens, a mais "civilizada", e ainda assim rivaliza pelo primeiro lugar do pódio nas minhas preferências pessoais.
A montanha, como habitat, é para mim um território magnético, poderoso, telúrico. Sinto-me purificado, energizado, inspirado na sua presença. E a paisagem alpina é, por definição, o pináculo da maravilha da criação natural! Mas não é este o que me traz aqui hoje. É, isso, sim, a infinitude de oportunidades fotográficas que este cenário proporciona! E, em particular, num tema que me é particularmente caro: padrões e abstratos. A abstracção é um sujeito recorrente no meu percurso fotográfico. E um projecto de longo prazo, em contínuo, sem fim à vista. É a epítome da ausência visual...
A brancura da neve, o cinza bruto das escarpas graníticas, as nuances do bailado que as nuvens, neblinas e nevoeiros proporcionam, num jogo de toca-e-foge que o espectador pode experienciar por longas horas... Os Alpes são um gigante parque infantil para fotógrafos! Não há monotonia, não há falta de motivos, não há limites para a imaginação, criatividade, paixão que se pode colocar numa hora, num dia, numa semana de busca fotográfica! Gosto daquela (quase) ausência de preocupação com a técnica e, de forma diametralmente oposta, com o enfoque na experiência, na emoção, na acuidade visual. De não me limitar a olhar, mas procurar ver. De sondar o meu campo de visão, tentando decantar, num qualquer processo alquimico, a parte do todo.
Entrecortando estas linhas surgem imagens seleccionadas por um muito subjectivo e pessoal critério estético, realizadas nas minhas últimas duas viagens à capital mundial do montanhismo, Chamonix. Conto já os dias para o regresso, em finais de Março, com uma ponta de ansiedade que a vida de viajante profissional não conseguiu ainda totalmente erodir...
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