Tenerife não se fica pelo cenário
natural. As localidades de casas multicolores que temperam a paisagem
surpreendem pelo equilibrio com que se integram nas encostas. Nem todas, claro.
Nas zonas suburbanas há um traço indisfarçável de África, que me recordou o
Senegal de há uns anos atrás – casas em tijolo, terraços incompletos, ferro
retorcido a sair dos pilares de segundos pisos imaginários. Nos resorts
do Sul, o caos urbanistico impera e os bandos de estrangeiros confirmam o que
de pior o turismo de massas tem... Mas nos povoados
históricos, bem conservados, é a influência da América Latina que impera.
No que à malha urbana diz respeito, La Laguna
destaca-se. Foi a primeira capital do arquipélago, até ter sido destronada por
Santa Cruz. Aqui, uns meros kilómetros a Leste, encontramos uma cosmopolita
cidade europeia, onde o Auditório se tornou um ícone, projectado pelo conhecido
arquitecto Eduardo Calatrava. Na costa Norte, Puerto de la Cruz e a
aristocrática La Orotava reinam, envoltas numa quase omnipresente neblina que
só acima dos 1000m de altitude se dissipa. Mas uma das maiores surpresas foi
Icod de los Vinos – supostamente a única atracção da aldeia é um gigantesco
dragoeiro, que os locais alardeiam como sendo o maior do mundo (devem ter
ouvido falar que em Portugal há muita coisa “maior do mundo” e aproveitaram a
onda). Mas para além do dragoeiro, impressionante, sem dúvida, qual dinossauro
vegetal, é o centro histórico que se destaca, com o Teide nas suas costas, as
esplanadas relaxadas, a praça central ordenada em volta da igreja de traça
colonial.
Em direcção a noroeste, passa-se ainda por Garachico, aldeia
piscatória quase totalmente destruída por uma erupção vulcânica em 1706, onde
as piscinas naturais convidam a um mergulho nas águas azuis turquesa. Mas o
destino é mesmo... Masca! A chegada parece uma subida interminável em direcção
uma terra insólita, entre nevoeiro bamboleante e curvas que desafiam a
gravidade. Finalmente, após uma última encosta, o vazio abre-se perante o
olhar, e Masca apresenta-se, alvas paredes contra a terra vulcânica escura,
pendendo sobre um desfiladeiro imenso que, dizem, é o mais espectacular
trekking da ilha! O sol, esse, já cansado de mais um dia, vai descendo no
horizonte à medida que a linha entre a luz e a sombra trepa a face da
montanha... É hora de regressar. Ao longe, a silhueta simétrica de La Palma,
plantada no Atlântico, recorda-me onde estou. Sucumbindo à inexorável atracção
da gravidade, a Terra roda mais um milimetro, e a noite, tépida, engole-me,
numa volúpia de sombra e névoa...
Aprecio muito o teu blog, quer pelas lindas fotografias que nos mostras, quer pelos textos que as complementam. Estes permitem-nos ver com o coração aqueles pormenores que os olhos não enchergam... Além de fotógrafo ... és também um poeta!
ResponderEliminarAprecio muito o teu blog, quer pelas lindas fotografias que nos mostras, quer pelos textos que as complementam. Estes permitem-nos ver com o coração aqueles pormenores que os olhos não enxergam... Além de fotógrafo ... és também um poeta!
ResponderEliminar