18.8.13

Tenerife urbana



Tenerife não se fica pelo cenário natural. As localidades de casas multicolores que temperam a paisagem surpreendem pelo equilibrio com que se integram nas encostas. Nem todas, claro. Nas zonas suburbanas há um traço indisfarçável de África, que me recordou o Senegal de há uns anos atrás – casas em tijolo, terraços incompletos, ferro retorcido a sair dos pilares de segundos pisos imaginários. Nos resorts do Sul, o caos urbanistico impera e os bandos de estrangeiros confirmam o que de pior o turismo de massas tem... Mas nos povoados históricos, bem conservados, é a influência da América Latina que impera. 



No que à malha urbana diz respeito, La Laguna destaca-se. Foi a primeira capital do arquipélago, até ter sido destronada por Santa Cruz. Aqui, uns meros kilómetros a Leste, encontramos uma cosmopolita cidade europeia, onde o Auditório se tornou um ícone, projectado pelo conhecido arquitecto Eduardo Calatrava. Na costa Norte, Puerto de la Cruz e a aristocrática La Orotava reinam, envoltas numa quase omnipresente neblina que só acima dos 1000m de altitude se dissipa. Mas uma das maiores surpresas foi Icod de los Vinos – supostamente a única atracção da aldeia é um gigantesco dragoeiro, que os locais alardeiam como sendo o maior do mundo (devem ter ouvido falar que em Portugal há muita coisa “maior do mundo” e aproveitaram a onda). Mas para além do dragoeiro, impressionante, sem dúvida, qual dinossauro vegetal, é o centro histórico que se destaca, com o Teide nas suas costas, as esplanadas relaxadas, a praça central ordenada em volta da igreja de traça colonial. 




Em direcção a noroeste, passa-se ainda por Garachico, aldeia piscatória quase totalmente destruída por uma erupção vulcânica em 1706, onde as piscinas naturais convidam a um mergulho nas águas azuis turquesa. Mas o destino é mesmo... Masca! A chegada parece uma subida interminável em direcção uma terra insólita, entre nevoeiro bamboleante e curvas que desafiam a gravidade. Finalmente, após uma última encosta, o vazio abre-se perante o olhar, e Masca apresenta-se, alvas paredes contra a terra vulcânica escura, pendendo sobre um desfiladeiro imenso que, dizem, é o mais espectacular trekking da ilha! O sol, esse, já cansado de mais um dia, vai descendo no horizonte à medida que a linha entre a luz e a sombra trepa a face da montanha... É hora de regressar. Ao longe, a silhueta simétrica de La Palma, plantada no Atlântico, recorda-me onde estou. Sucumbindo à inexorável atracção da gravidade, a Terra roda mais um milimetro, e a noite, tépida, engole-me, numa volúpia de sombra e névoa...


2 comentários:

  1. Anónimo19.8.13

    Aprecio muito o teu blog, quer pelas lindas fotografias que nos mostras, quer pelos textos que as complementam. Estes permitem-nos ver com o coração aqueles pormenores que os olhos não enchergam... Além de fotógrafo ... és também um poeta!

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  2. Anónimo20.8.13

    Aprecio muito o teu blog, quer pelas lindas fotografias que nos mostras, quer pelos textos que as complementam. Estes permitem-nos ver com o coração aqueles pormenores que os olhos não enxergam... Além de fotógrafo ... és também um poeta!

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