Se há coisa que me entusiasma ao viajar é a perspectiva de encontrar algo inesperado ao virar da esquina, da sensação de poder ser permanentemente surpreendido e de ter os sentidos sempre alerta, sempre à espera de algo que pode ou não chegar mas que, quando o faz, provoca uma marca.
Na Polónia encontrei-o num local bem insuspeito. Nas ruas centrais da maioria das cidades, encontram-se (ainda) os localmente famosos bar mleczny (e cuja tradução literal seria "bar de leite"). Verdadeira institução social, são resquícios de um passado socialista que, apesar de recente, parece já de uma realidade paralela, tão diferente se tornou a vida no país. Na prática são pequenas cantinas a preços reduzidos, que eram originalmente geridas pelo Estado e que tinham a função de proporcionar alimentação aos cidadãos a custos comportáveis. Hoje, grande parte foram privatizadas, mas continuam a desempenhar o mesmo papel. Com uma grande diferença: alguns tornaram-se verdadeiros locais de culto, e uma verdadedeira montra da cultura urbana polaca.
A ementa é variadissima, embora quem chegue atrasado se habilite a ver riscados alguns componentes do menú. Sopas, saladas, pratos principais de carne de diferentes tipos, pierogui ou kluski, acompanhados por kompot, um caldo adocicado de fruta cozida... A lista é interminável e tem o condão de me fazer salivar! Mas o melhor de tudo é a combinação de qualidade e preço: é possível comer uma refeição completa, saborosa e nutritiva por €3! E com vista para o passado, que se projecta para um presente insólito mas interessante...
Em Varsóvia costumo ir a três bar mleczny: Familijny, na mais sofisticada artéria da capital, a ulica Nowy Swiat (Novo Mundo, ironia), Pod Barbakanem, à sombra da muralha que separa a Stare Misato da Nowy Miasto e Bambino, talvez o melhor de todos. À porta do número 21 da ulica Kruzka destaca-se a enorme fila, que serpenteia até meio do passeio. Vêem-se jovens estudantes, nacionais e estrangeiros, executivos de fato e gravata, desempregados, artistas famosos, crianças e idosos de parcos recursos, um melting pot social que planta um sorriso idealista no rosto de quem sonha com uma sociedade mais equalitária e justa. Dentro, da pequena janela onde os pratos são entregues em mão aos seus destinatários finais, onde afogueadas senhoras se movem com uma rapidez incrível, exala um maravilhoso aroma a comida que me obriga a sentar e apreciar, com todos os sentidos e um certo sentido de urgência, um cenário que não sei até quando existirá.
Olá António,
ResponderEliminarTenho seguido o teu blog com regularidade, mas apenas com os post sobre a Polónia comecei a ter curiosidade pelo post seguinte.
Estão muito bons, principalmente porque não são mais uma comum descrição lirica de uma viagem. Gostei muito.
Quanto às fotos, excelentes como sempre.
Para quando uma conta no Instagram?
Parabéns!
Obrigado pelas simpáticas palavras, Carla :-).
EliminarQuanto ao Instagram, sim, está previsto para breve.