Poder-se-á dissecar o conceito do poder da palavra de mil e uma formas diferentes, consoante o enquadramento histórico, as circunstâncias geopolíticas, as inclinações religiosas ou as intenções mais ou menos interesseiras inerentes à condição humana.
Mas, como apaixonado pelo quotidiano e pelos pequenos grandes milagres com que nos presenteia diariamente, deslumbra-me e assusta-me em iguais medidas o quão poderoso e destrutivo pode ser o que dizemos e os efeitos naqueles que nos rodeiam. Como pai activo e activista, mais alerta estou para a relação intrinseca entre a palavra e o desenvolvimento das crianças e a influência que tem na formação dos futuros adultos.
Poucas coisas me desconcertam mais que o mantra demasiadamente presente em muitas conversas de rua entre pais e filhos pequenos:
- Cuidado, não subas ai que vais cair!
- Não brinques com a água, que te vais constipar!
- Não mexas na terra, que te sujas!
- Vá, deixa lá isso, não és capaz!
- Eu bem te avisei!
- Tu és um menino forte, um caminheiro das montanhas, já viste o que andaste para chegar aqui?! Não é qualquer um que o faz! Tu és especial, e vais conseguir chegar ao miradouro, eu ajudo-te!
E, dando-lhe a mão com um sorriso, recomeçou a andar, auxiliando-o passo a passo, continuando a reforçar o quão forte ele era e como ele ficaria feliz ao conseguir conquistar a montanha e atingir o seu objectivo! Não os voltei a ver, não sei se chegaram ao topo. Acredito que sim. Mas, para lá desse objectvo imediato, esta criança ter o seu modelo mais importante – os pais- a acreditar nele, a afirmarem o quão forte e capaz ele é, tem de ser algo revelador e imensamente poderoso, capaz de o fazer superar-se e ir para além do que pensava ser possível. Mais tarde, perante dificuldades ou desafios na vida académica, profissional ou amorosa, esta semente de resiliência germinará muito provavelmente, e oxalá ele a transmita à próxima geração. É nisto que acredito e é isto que procuro transmitir à minha descendência.
Na descida, presenciei ainda uma outra cena curiosa: um avô acompanhava dois rapazes, um pouco mais velhos, carregando um deles uma enormissima mochila que quase lhe tocava nos calcanhares! Naquele vale profundo dos Tatras, guardado por agudas escarpas e sob a melodia hipnotizante do rio que negociava com suavidade a geografia agreste da montanha, os sorrisos de aprovação de quem com eles se cruzava tudo diziam...
Concordo plenamente com o teor do artigo. Todavia, por vezes, um segundo apenas é mais do que suficiente para alterar as cores da história, tornando-a negra. Falo assim, porque recentemente aconteceu a um dos meus netos. Coisa muito grave, felizmente sem as consequências que inicialmente se perspetivavam.
ResponderEliminarUm abraço
Sim, Diamantino, é um risco.
EliminarMas por vezes as cicatrizes emocionais da instauração do medo e da falta de auto-confiança nas crianças podem ser tão ou mais graves a longo prazo que uns arranhões ou até braços ou pernas partidas...
Artigo interessante relacionado de alguma forma com este assunto:
ResponderEliminarhttp://www.publico.pt/portugal/jornal/criancas-precisam-de-correr-riscos-para-se-desenvolverem-27192496