Down & Dirty! Esta é uma expressão familiar a muitos fotógrafos de natureza e fotojornalistas por esse mundo de fora. Na fotografia de campo, nem tudo é glamoroso, nem sempre há um cocktail à espera no final da sessão fotográfica, nem todos os sujeitos fotográficos se regem pelos mágicos 90-60-90... Há muitos dias em que chego ao anoitecer cansado, arranhado, suado, enlameado, queimado pelo sol, picado por insectos desconhecidos... Mas... Mas, quando no pequeno LCD da máquina fotográfica se materializa uma imagem que instantaneamente sabemos ser poderosa, o coração enche-se de uma alegria que as palavras não conseguem descrever, num turbilhão de pequenas emoções que vão e vêm e que têm o fenomenal efeito de fazer esquecer tudo o que anteriormente descrevi. Todo o cansaço, frustrações, oportunidades falhadas se justificam e simultaneamente se desvanecem num recanto obscuro da memória porque, afinal, “A” foto está ali!
Dando
continuidade a uma colaboração de longa data, e da qual já
resultaram conteúdos muito interessantes no passado, aceitei
recentemente o desafio de produzir, com o Tiago Costa, um vídeo
sobre biodiversidade e agricultura biológica na vinha do Douro. E,
simultaneamente, fotografar espécies de fauna e flora neste local preciso, numa área de apenas algumas dezenas de hectares.
Nas últimas semanas, no calor característico do Alto Douro, numa
primavera particularmente quente, parti em busca de rapinas,
passeriformes, insectos variados, paisagens vinhateiras, flores
silvestres, peixes, répteis e anfíbios vários... Foi uma pequena
epopeia, sobretudo porque, dadas as circunstâncias, filmar e
fotografar em simultâneo se revelou um desafio permanente...
No
final, duas das sequências mais fortes surgiram de um cruzamento do
acaso com instinto e muitos, muitos anos de campo acumulados, que
apuram e despertam os sentidos para determinados cantos, silhuetas em
voo e habitats. Numa delas, a dica de um trabalhador local foi
providencial, levando-me a um ninho de peneireiros-comuns, mesmo no
interior de uma quinta, o que facilitou a minha presença sem causar
grande perturbação (instavelmente equilibrado no tejadilho do meu
carro, seria difícil passar despercebido!). Na outra, o voo
ondulante de um casal de mochos-galegos, tantos vezes observado por
esse Portugal fora, revelou-me as proximidades dos seus terrenos de
caça, e foi apenas uma questão de tempo até estes se aproximarem a
poucos metros de mim...
O
trabalho de campo está concluído, inicia-se agora o longo calvário
da produção video... Mas as expectativas são altas! Em Outubro
terei novidades quanto a este projecto. Stay tuned :-)!
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