1.6.15

Música de brincar


Não é todos os dias que se vai a um concerto especial. E também não é todos os dias que a grande maioria da assistência não ultrapassa a unidade de medida (quase) universal - o metro. Não posso, por isso, deixar de partilhar a minha experiência deste 1 de Junho, Dia Mundial da Criança, enquanto pai-acompanhante, mas também enquanto jornalista.

No glamouroso Cinema São Jorge - e como tenho saudades de salas imponentes, como esta - ali mesmo na Avenida da Liberdade, ao lado de montras da Prada, Gucci ou Boss - bem brilhantes mas nem de perto nem de longe com o mesmo charme – o ambiente era de chinfrim! Mas um chinfrim bom, não daquele que se ouve nos multiplex dos centros comerciais, de gente a ruminar pipocas enquanto me tento concentrar no écran! Eram centenas de crianças, algumas ainda cambaleantes, tentando acertar com a complicada biomecânica de colocar um pé à frente do outro sem tombar, outras mais velhas, com a pré-adolescência já a assomar por todos os poros, mas todos com aquele brilhozinho nos olhos, de expectativa, de cândida excitação! A sala de espectáculos não podia ser mais adequada ao momento: a forte inclinação das filas de cadeiras impunha respeito e proporcionava um ângulo óptimo para um espectáculo musical ao vivo. As tonalidades sombrias, vintage, acentuavam-se sob a luz pálida dos focos e o vermelho das cadeiras convidava ao assento.



Ao fim de alguns minutos, negociando com os infantes a complicada passagem até aos nossos lugares, mesmo no centro da fila D, a escuridão cai e o pano abre-se sobre o palco negro. Silêncio! Escutam-se passos. E lentamente entram no palco corpos de calças pretas e blusas brancas, tocando ritmos com mãos, pés e bocas, num frenesim que era acompanhado pelo inusitado mas divertido barulho da assistência, felizmente sem filtros, pelo menos neste (seu) dia...



Ao longo de mais de uma hora foram “tocados” instrumentos que iam de copos de plástico a sacos do lixo, passando por garrafões de água e funis de tamanhos diversos! Sem que se notasse impaciência nos meus vizinhos, o concerto foi-se tornando mais sério... “Sério”, talvez! Começaram a surgir instrumentos. Mas instrumentos de brincar: pianinhos de sopro, tambores, flautas multicolores, cavaquinhos de plástico, um sem fim de soluções engenhosas, que poderíamos talvez encontrar numa loja de utilidades, mais do que numa vetusta casa de espectáculos!

À Orquestra dos Brinquedos, responsável pela produção do evento, 21 professores de educação musical dão o corpo ao manifesto, no projecto Foco Musical. Alguns muito jovens, outros menos, mas partilhando um gosto óbvio pela musicalidade - seja ela proveniente de instrumentos tradicionais ou de soluções inventadas – são a personificação de que a pedagogia cultural não tem de seguir regras pré-definidas e que, de formas criativas e originais, é possível incutir desde bem cedo o gosto pela música e pelas artes performativas!

Parabéns, Orquestra dos Brinquedos! Aqui o bebé careca adorou!


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