Não é todos os
dias que se vai a um concerto especial. E também não é todos os dias que a
grande maioria da assistência não ultrapassa a unidade de medida (quase)
universal - o metro. Não posso, por isso, deixar de partilhar a minha
experiência deste 1 de Junho, Dia Mundial da Criança, enquanto pai-acompanhante, mas também
enquanto jornalista.
No glamouroso
Cinema São Jorge - e como tenho saudades de salas imponentes, como esta - ali mesmo na Avenida da Liberdade, ao lado de montras da
Prada, Gucci ou Boss - bem brilhantes mas nem de perto nem de longe com o mesmo
charme – o ambiente era de chinfrim! Mas um chinfrim bom, não daquele que se
ouve nos multiplex dos centros comerciais, de gente a ruminar pipocas enquanto
me tento concentrar no écran! Eram centenas de crianças, algumas ainda
cambaleantes, tentando acertar com a complicada biomecânica de colocar um pé à
frente do outro sem tombar, outras mais velhas, com a pré-adolescência já a
assomar por todos os poros, mas todos com aquele brilhozinho nos olhos, de expectativa,
de cândida excitação! A sala de espectáculos não podia ser mais adequada ao
momento: a forte inclinação das filas de cadeiras impunha respeito e proporcionava um ângulo
óptimo para um espectáculo musical ao vivo. As tonalidades sombrias, vintage,
acentuavam-se sob a luz pálida dos focos e o vermelho das cadeiras convidava ao assento.
Ao fim de alguns
minutos, negociando com os infantes a complicada passagem até aos nossos
lugares, mesmo no centro da fila D, a escuridão cai e o pano abre-se sobre o
palco negro. Silêncio! Escutam-se passos. E lentamente entram no palco corpos
de calças pretas e blusas brancas, tocando ritmos com mãos, pés e bocas, num
frenesim que era acompanhado pelo inusitado mas divertido barulho da
assistência, felizmente sem filtros, pelo menos neste (seu) dia...
Ao longo de mais
de uma hora foram “tocados” instrumentos que iam de copos de plástico a
sacos do lixo, passando por garrafões de água e funis de tamanhos diversos! Sem
que se notasse impaciência nos meus vizinhos, o concerto foi-se tornando mais
sério... “Sério”, talvez! Começaram a surgir instrumentos. Mas instrumentos de
brincar: pianinhos de sopro, tambores, flautas multicolores, cavaquinhos de
plástico, um sem fim de soluções engenhosas, que poderíamos talvez encontrar
numa loja de utilidades, mais do que numa vetusta casa de espectáculos!
À Orquestra dos
Brinquedos, responsável pela produção do evento, 21 professores de educação
musical dão o corpo ao manifesto, no projecto Foco Musical. Alguns muito
jovens, outros menos, mas partilhando um gosto óbvio pela musicalidade - seja
ela proveniente de instrumentos tradicionais ou de soluções inventadas – são a
personificação de que a pedagogia cultural não tem de seguir regras
pré-definidas e que, de formas criativas e originais, é possível incutir desde
bem cedo o gosto pela música e pelas artes performativas!
Parabéns, Orquestra
dos Brinquedos! Aqui o bebé careca adorou!
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