15.3.13

-26ºC

-26º C! 
Foi com este conjunto de caracteres mal desenhados que, acabado de chegar à mítica capital dos Alpes, Chamonix, o meu dia se iniciou numa gélida manhã de Janeiro.

Há muito que sentia falta do frio, da visão poderosa de um manto de neve virgem, da presença dura dos picos nevados, reminiscências talvez da minha vivência na Polónia, há uma década atrás. Desde então havia visitado Alpes e Pirinéus, mas nunca focado numa jornada pessoal. Desejava reencontrar agora a essência do quotidiano da montanha e perceber como é, nos dias de hoje, o inverno no coração da mais icónica cordilheira europeia. 

Queria olhar, fotografar, sentir sob os meus pés alguns dos últimos glaciares do Velho Continente, testemunhar in loco o efeito das alterações climáticas e, quiçá numa perspectiva mais egoísta, reencontrar ai inspiração nos ambientes feéricos que se desvendam a cada curva da geografia acidentada.

Não é em vão que o alpinismo veio buscar o nome a estas montanhas - foi aqui que nasceu. Chamonix anuncia-se como a capital mundial da disciplina e tudo ali respira o ambiente de um dos mais extremos desportos. O prémio mais cobiçado, a ascensão ao Monte Branco, com 4810m, foi conseguida por Jacques Balmat e Michel Paccard no verão de 1786, naquilo que é considerado o início do montanhismo moderno. 




Com objectivos mais modestos, entro no teleférico da Aiguille du Midi, que me elevaria dos 1035m aos 3842m de altitude, a maior ascensão absoluta mundial em meio mecânico deste género. E nada me podia preparar para a visão que aguardava no topo. Rasgando o capacete de nuvens baixas, a cabine aproximou-se do cume, na sombra, até de repente o Monte Branco surgir enquadrado pelo azul do céu, sob um sol que não conseguia aquecer o ambiente! Assim que as portas se abriram, os elementos pareceram soltar toda a sua fúria: um vento cortante ameaçava rasgar o blusão de penas, o frio era insidioso, as nuvens bailavam ao sabor da borrasca! Fotografar fazia-se a custo, porque as luvas não facilitavam a operação e retirá-las revelava-se uma tarefa dolorosa. 

Mas tudo isso era absolutamente secundário perante a magnitude do cenário, numa visão de 360º sobre a mais alta montanha da Europa ocidental, fronteira de França com Itália. Impossível não parar para contemplar: a sensação foi próxima daquela que sentimos ao entrar numa grande catedral - a escala esmagadora, a perfeição inatacável, a harmonia inspiradora...


Webcams em (quase) tempo real do vale de Chamonix.




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