5.4.13

Marraquexe, terra de deus

Terra de deus... é assim que Marraquexe é conhecida entre o povo berber, os habitantes originais do território que hoje engloba Marrocos e alguns dos países vizinhos. Antigo entreposto comercial nas rotas do Sahara, foi ganhando dimensão e notoriedade ao longo dos séculos, tornando-se numa das mais magnéticas e vibrantes metrópoles do Norte de África. Para encontrar o seu coração, nada mais há a fazer que seguir as placas para "a praça".  Jemaa El-Fna, lugar verdadeiramente único, a que nem a mais imaginativa adjectivação fará a devida justiça: caos com ordem, lógica na desarrumação, cocktail sentitivo em que nos vemos completamente submergidos por todos os estímulos possíveis: visuais, auditivos, tácteis, olfactivos... e, naturalmente, gustativos, se nos decidirmos a experimentar uma das largas dezenas de bancas com restaurantes capazes de deixar apoplético qualquer inspector da ASAE e que, noite após noite, são montadas e desmontadas no topo Norte praça.

Durante quatro intensos dias percorremos a medina, com os seus souks, a praça, a zona da mesquita Koutoubia, o bairro judeu, a madrassa e ainda Gueliz, na parte nova... E a cada regresso surpreendo-me com o que tem para oferecer! O inesperado espreita a cada esquina: as combinações de luz, os cenários em mutação constante, os personagens, sempre imprevisíveis e temperamentais, tudo cria uma tensão a que é fotograficamente impossível resistir!



Por outro lado sinto como um privilégio a possibilidade de partilhar com gente interessante e interessada este mundo que, não sendo de forma alguma inacessível a viajantes independentes, exige algum tempo e espírito para ser descoberto de mote próprio se se quiser ir um pouco além da superficie... Para lá da praça, da Koutoubia e das ruas principais dos souks há toda uma outra cidade de gente normal, que vive o seu quotidiano de forma pacífica e afável: mercados de roupa usada, fornos de pão comunitários ou mercearias e ervanárias em que raramente se vê um rosto ocidental são comuns, acessíveis e, por vezes, até mais interessantes que o ícones por demais conhecidos. Os marrakashi, por seu lado, estão tão familiarizados com a fotografia que acabam por ter duas reacções quase antagónicas, dependendo do humor do dia: por um lado, aquela já se incorporou como parte do seu quotidiano, o que os leva a ignorá-la. Mas, compreensivelmente até, dadas as hordas de turistas que assolam as zonas mais batidas, alturas há em que ficam fartos e reagem algo exageradamente à visão de qualquer máquina fotográfica, mesmo que apontada na direcção oposta!

Equipamento pequeno e discreto é, para mim, a solução. Adoro por exemplo parar na Jemaa El-Fna, com um sumo de laranja numa mão e a máquina na outra, encostado à sombra a uma das carroças e ir captando o que naquele cenário indescritivelmente fotogénico acontece. Ou subir a um dos pequenos terraços da medina, todos praticamente à mesma altura, e criar fotogramas olhando de cima, numa perspectiva superior mas não sobranceira, como se flutuasse por artes mágicas num tapete voador das 1001 noites (algo que, por estas bandas, ninguém estranharia).







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