2.6.13

Home again

A pingar. Que nem um pinto. Foi assim que fiquei. E o sol brilhava, radioso!... Tinha acabado de sair de um mergulho.

Há já algum tempo que não mergulhava com garrafa, e soube bem! A beleza e e exuberância da vida marinha rivaliza com a da superficie. Nudibrânquios coloridos, com parcos centímetros de comprimento; uma santola do tamanho de uma bola de futebol; moreias à duzia de boca aberta e olhar duvidoso; algas ululantes, dançando ao sabor da corrente e da ondulação; cardumes de peixes prateados numa sincronia desconcertante, como que conduzidos por alguma força maior... e, enquadrando em fundo todos estes elementos, o azul esverdeado da água, omnipresente, magnético...





Estou de regresso. A um local que não é a minha casa. Mas que podia ser. E onde me sinto como tal. Uma terra mítica, mística, nove rochedos plantados a meio de um oceano duro mas que, aqui, se amansa por artes mágicas. A luz é especial. O nevoeiro ganha um novo charme. Até o cinza do céu é mais belo neste recanto, como que parte de um feitiço que me foi lançado há precisamente 23 anos atrás, numa primavera pouco auspiciosa de que recordo a chuva, o cheiro a enxofre e um cozido especial que, ainda hoje, não me entusiasma...

Açores.

Uma terra que herdou o nome de um equívoco, duplamente perpetuado: as aves de rapina que cá existem com abundância e que os primeiros navegadores tomaram por açores não o são. E continuam a ser mal identificados. Milhafres, chamam-lhes hoje. Também não o são. Mas não interessa.

Interessa que cheguei. Já sentia falta. Estava com sintomas de privação. Há dois meses que não tinha a minha dose...

Da paz inspiradora.
Dos horizontes infinitos.
Do verde incomparável.





São Miguel é a ilha que mais vezes me acolheu. Tenho aqui verdadeiros amigos, que desafiam em quantidade e intensidade os da minha terra natal. Mas em todas as outras ilhas alguém há que me é especial. Contactos perenes, alguns. Fugazes, outros. Não menos relevantes ou importantes.

O dia torna-se mais escuro, contrastando com a jornada soalheira da véspera. É habitual. Acolho de bom grado o raio de sol tímido que se escapuliu por entre duas assustadoras nuvens, fintando pesadas gotas de chuva que, de repente, se abatem sobre a calçada preta e branca, que recorda aos mais distraídos que estamos em Portugal.

Por agora vou simplesmente encher o peito deste ar húmido, límpido, salgado...


4 comentários:

  1. As ilhas açoreanas são lindas e exuberantes. Mas tudo o que eu possa dizer já está dito neste texto e nas fotografias. Das nove ilhas já estive em cinco e, por isso, aprecio imenso este arquipélago e as suas gentes. Um abraço

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Sem dúvida, Diamantino! Tenho o privilégio de ter percorrido as 9 ilhas, e cada uma tem o seu encanto especial :-). Abraço!

      Eliminar
  2. Fantástico!!! Bem haja, pelos rasgados (e merecidos) elogios a este cantinho perdido no meio do Atlântico!
    Parabéns! Pela escrita envolvente. Pelas fotografias maravilhosas.

    ResponderEliminar