30.7.13

Arquipelágico


Eis um melodioso neologismo! Foi assim que uma amiga de curta data - mas nem por isso menos importante - me apelidou, comentando as minhas recentes viagens a três arquipélagos em pouco mais de um mês. Açores, velhos conhecidos; Madeira, a eterna "próxima viagem" que finalmente o deixou de ser e Canárias, uma inesperada visita que me encantou definitivamente e só não surpreendeu mais porque estudei muito bem o destino antes da partida.

Arqui pelágico - conduz-nos para ambientes insulares, para a improvável existência de um conjunto de ilhas agrupadas numa imensidão líquida, pelas quais os grandes animais pelágicos - esses inveterados navegantes do mundo marinho - passeiam, insolentes quase, como se o oceano fosse apenas seu, e sobre ele tivessem direitos supremos. Não nego o meu encanto por ilhas. Já muito pensei sobre o facto. Porque será?!

Talvez pela sensação de confinamento. Precisamente aquilo que aflige a maioria dos visitantes, é algo que me inspira confiança, me desafia a imaginação, me seduz ao partir para a descoberta. Parece fácil explorar uma ilha, dirão. A experiência diz-me que não. Paradoxalmente, talvez precisamente pela sensação de que "-Está tudo ali, não vai fugir, há tempo para lá ir", acaba-se muitas vezes por não investir o tempo necessário para verdadeiramente ir para além das estradas principais, dos caminhos batidos, dos miradouros mais espectaculares...



Das Canárias, por agora, fiquei a conhecer Tenerife. A maior e, dizem, mais diversificada das 7 ilhas do arquipélago espanhol. E reforcei uma perspectiva que já havia tido na visita a Maiorca: há turismo de massas, sim, mas não é opressivo e mesmo no Verão é extremamente fácil fintar as hordas de turistas ingleses e alemães cor de lagosta que enchem apenas meia dúzia de resorts, maioritariamente no sul. Aliás, simplificando, o sul de Tenerife é a zona menos interessante: árida, com maior pressão urbanistica, não tem grandes pontos de interesse àparte as praias e a meteorologia, mais suave. É nos extremos que verdadeiramente as pérolas se escondem: Ponta de Teno, o cabo a Noroeste; as montanhas de Anaga, a Nordeste; o planalto central de paisagens lunares e, no topo, coroando sem concorrente, o magnifico Teide! Vulcão activo, mesmo que de aspecto plácido é, com os seus 3718m de altitude, o ponto mais alto de Espanha - ainda mais impressionantes porque se podem contemplar desde a cota 0!

Fotograficamente, este post é dedicado inteiramente a esta singular montanha. Do verde - e também o há em Tenerife - falarei muito em breve.


Já tinha visitado outras ilhas vulcânicas, já havia subido ao Pico, mas nada do que vira até então se comparava. A forma perfeitamente cónica do Teide, os matizes de cor que as rochas vulcânicas ganharam ao longo de consecutivas erupções, a forma como, resilientes, pequenas plantas colonizadoras começam a ganhar terreno ao gigante, tudo se conjuga para um espectáculo natural que, por si só, tomaria longos dias para ser apreciado e explorado. A ascensão ao topo é obrigatoriamente feita a pé, mesmo para quem tenha subido até à base de teleférico, e mesmo para pulmões habituados a caminhadas, a altitude faz-se sentir! Apenas um número limitado de pessoas são autorizadas diariamente a ascender à cratera, dado ser um habitat extremamente sensível e estar-se em pleno parque nacional. E à medida que o topo se aproxima, o cheiro a enxofre torna-se omnipresente. Revoadas de vapor rodopiam por entre pedras de formas improváveis que variam do preto ao branco, do amarelo ao verde, do ocre ao vermelho-sangue! A brisa intensifica-se, o céu azul e o sol do meio dia enganam e fazem parecer tudo mais quente do que realmente é. A vista, num panorama de 360º perfeito, com 4 das ilhas mais próximas vislumbrando-se no horizonte, essa... não cabe numa máquina fotográfica. Pura e simplesmente.


1 comentário:

  1. Maravilhoso, o Teide! Fui lá de carro, porque isto de levar a família não pode ser a pé. Subi pelo lado norte, a partir de La Orotava, uma povoação de alguma gente loura e de olhos azuis, disseram que descendentes de vickings que ali naufragaram. E, numa cura va estrada, repentinamente avista-se o Teide, imponente, com neve. Uma maravilha isso, as magmas petrificadas perto da estrada e a pequena recta para sul, a 3000 mts. de altitude, ladeada de rochas que parecem ter sido revolvidas por um arado gigante. Só não pude subir ao cume porque uma avaria parou, pouco depois de lá ter chegado, o funicular.
    Das Canárias, conheço Tenerife, Gran Canária e Lanzarote, esta a minha preferida, principalmente pela paisagem lunar do Parque Nacional de Timanfaya.
    Uma bela reportagem, adorei e fico à espera de ler mais sobre a ilha do povo Guanche.

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