27.1.14

Beni: 1000km sem net, telemóvel ou luz



Rio Beni. Um milhar de quilómetros serpenteantes em plena floresta amazónica boliviana. O nome nada me dizia até há cerca de meio ano atrás, altura em que, com os amigos Inácio RozeiraTiago Costa, começámos a ponderar a viagem que me levaria a atravessar de costa a costa o subcontinente sul americano, através da Amazónia, desde o Pacífico (Lima, no Peru), até ao Atlântico (Belém, na foz do Amazonas, no Brasil).

Mais de metade desse percurso está já realizado. De momento encontro-me "encalhado" em Porto Velho, aguardando um barco que me leve pelo rio Madeira até Manaus, e daí para Belém, descendo o Amazonas.



Independentemente do que possa ainda vir a acontecer - e este trecho que se iniciará 3ª ou 4ª feira, dependendo da vontade da capitã, tem muito potencial - o ponto alto foi a travessia do rio Beni, entre Rurrenabaque e Riberalta, na Bolívia. Foram longos dias de um isolamento já difícil de encontrar nos tempos que correm: sem sinal de telemóvel, sem um único ponto de rede eléctrica, sem água potável, sem pontos de abastecimento de combustível, em que a maioria das aldeias têm menos de 10 famílias e não há sequer, pura e simplesmente, estradas.





A candura com que fomos recebidos, a genuinidade com que nos acolheram em suas casas e connosco partilharam o (pouco) que têm torna-nos mais humildes, mais humanos, indubitavelmente mais ricos. O projecto de reportagem foi crescendo de dia para dia, comigo a fotografar, o Tiago a filmar, o Inácio na logística, estando os textos a cargo do Eduardo Madeira, um jovem jornalista que conhecemos no Peru e que se nos juntou para esta parte da viagem. Confinados aos 13m do nosso "navio" durante parte do dia, fazíamos paragens ao longo das margens um pouco baseados na primeira impressão que tínhamos dos povoados e do conhecimento prévio do Eddy, tanto para dormir como para fotografar e entrevistar diferentes pessoas.





Nomes como San Marcos, California, Trigalito ou Puerto Cavinas farão, a partir de agora, parte do meu imaginário de viagens. Mergulhar nas águas turvas e turbulentas do rio, caminhar com água pela cintura em terrenos infestados de caimões e anacondas, pernoitar num acampamento improvisado em plena selva ou até passar um serão a assistir a filmes pirateados num aquartelamento da Marinha Boliviana (num país que não tem mar!) serão experiências que irei digerir e relatar ao longo dos próximos meses.

De momento, a chuva torrencial que se abateu sobre Porto Velho amaina o calor pegajoso característico destas latitudes. O jantar já espreita, saboroso, algures numa rua mal iluminada de terra batida...


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