No Dubai tudo é superlativo. E há a mania do
“maior do mundo”, mais ainda do que entre os portugueses, que se ficam pela
“maior árvore de Natal do mundo”, ou a “maior feijoada do mundo”! Naquele
território é mesmo tudo à grande: o mais alto edifício do mundo, o maior centro
comercial do mundo, o maior hotel de 7 estrelas do mundo, e por aí fora. A
cidade é, sem dúvida, uma ode ao engenho humano do sec. XXI, um parque de
diversões ao ar livre para engenheiros civis e arquitectos! A quantidade de
arranha-céus é impressionante, a diversidade e originalidade dos mesmos também,
e as ruas são alindadas por não menos maravilhosas bombas automóveis, que rugem
na passagem a verde dos semáforos das largas e aparentemente infinitas avenidas.
Uma simples ida às compras mais parece uma visita a uma feira automóvel.
Comecemos nos desportivos: Porsche é coisa banal, Ferraris vêem-se aos pares, Maserattis, Aston Martins e
McLarens são avistamentos comuns. Para os mais conservadores, Rolls Royce e, sobretudo, Bentleys,
abundam. Tudo brilha, desde o asfalto iluminado pelas luzes de montras
luxuosas, até ao píncaro das torres de cristal.
Mas... mas se sairmos do Downtown, se rumarmos a Deira, à zona dos souks na margem norte do Creek, e sobretudo se formos aos arredores da metrópole, onde as areias do deserto ainda reinam e lutam pela sua honra contra o betão impiedoso, o cenário muda radicalmente. Tal como o tom de pele das gentes que por lá deambulam. E o interesse para um viajante sequioso de autenticidade cultural. Indianos e paquistaneses, filipinas e indonésias, a miríade de nacionalidades e etnias explode como as flores silvestres desabrochando aos primeiros raios de sol primaveril. A percentagem de emiratis (os nacionais dos Emirados Árabes Unidos) é pequena, quando olhamos para a população total do país. São os emigrantes a sua verdadeira força motriz.
Mas são-no na sombra. As diferenças sociais
são absolutamente assustadoras: entre os sheiks do petróleo e os tubarões do
imobiliário e os trabalhadores da construção civil e amas asiáticas há um fosso
que parece inimaginável num território tão pequeno e, aparentemente, tão
pacífico. A escravatura, de facto, existe. Mas não como no tempo dos
Descobrimentos – os grilhões pesados e ferrugentos são outros agora, mais
insidiosos mas não menos grotescos – trabalhadores trazidos ao engano de países
pobres e populosos, passaportes apreendidos pelos empregadores, “salários” que
por vezes não ultrapassam os $100 mensais, num país onde o custo de vida não é
barato, em condições de alojamento desumanas… A lista continua.
E depois há aquela sensação de artificialidade constante, como se tudo fosse de plástico, ilusório, pronto-a-consumir, sem tempo para o tempo lhe emprestar a patine de bom gosto - que, admito, talvez seja uma etnocêntrica deformação europeia…
Um texto (cujas fontes não pude confirmar, mas que bate certo com muitas histórias similares que escutei acerca do Dubai):
ResponderEliminarhttps://www.facebook.com/drsubramanianswamy/photos/a.118146701658320.18858.107229389416718/323782171094771/?type=1&theater