18.6.14

Gatos em telhado de zinco quente

Não foi certamente sobre o Grand Bazar que a deslumbrante Elizabeth Taylor, com o seu olhar felino, capaz de fazer suspirar gerações inteiras de admiradores do grande écran, terá gatinhado na película Gata em Telhado de Zinco Quente. Mas bem podia ter sido!

Chegar lá é, por si só, uma aventura. Subir escadarias apertadas, por edifícios que desafiam o uso, os terramotos, as invasões, os atentados bombistas e o mais demolidor dos inimigos - o tempo. Que, simultaneamente, lhe dá também o charme, o encanto, o magnetismo de um caos que nem é organizado nem é disfuncional. Prédios que são também um testemunho do crescimento exponencial da cidade no último século, espelho opaco de migrações consecutivas, normalmente forçadas, sejam elas por motivos políticos ou económicos.


Fábricas antigas, pombais actuais, costurarias esconsas, recantos para namorar, e muitas, muitas arrumações de... inutensílios, esse belo vocábulo inventado por Mia Couto. Tudo tem lugar nos telhados de Istambul!

Mas o momento mágico aconteceu instantes antes da oração do meio dia. Corremos escadas acima, passando por homens de barba por fazer e camisas de cavas suadas, velhinhas de lenços multicolores, crianças descalças de olhar brilhante, com uma urgência que se revelou à saída da última portinhola: o Bósforo espraiando-se até perder de vista, o Corno Dourado recostado a meus pés, e as agulhas infinitas das mesquitas erguidas ao alto, encimadas por múltiplos altifalantes prestes a rebentar de decibéis... E, num ápice, o éter explodiu, os átomos do ar vibrando a cada segundo, quando em uníssono todas as mesquitas começaram um dos cinco chamamentos diários para as preces. Sonhando de olhos bem abertos, anestesiado pela ladainha de uma língua incompreensível mas melodiosa, viajei por todo um mundo de exotismo e maravilha que se desenrolava ali, à minha frente, sob os meus pés, tocando a minha pele!  





Desci, caindo na real lentamente, olhando as mesmas paredes por onde havia passado há minutos com um outro olhar. A luz que se esgueira por frechas e frinchas não pode ser encapsulada em palavras. A fotografia aí fica, silenciosamente expressiva...

Para terminar, um curto clip improvisado que captou o instante do chamamento para a oração. Indescritível...






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