Varsóvia: muito mais que o Pacto

"Pacto de Varsóvia" foi uma expressão com a qual cresci, escutando-a na rádio, televisão e jornais. Na altura a informação que existia sobre os países do Bloco de Leste era diminuta e a propaganda abundante. Ouvia de vez em quando dizer que os comunistas comiam criancinhas ao pequeno almoço, ainda que houvesse um tio "revolucionário" que votava na APU (e como eu achava piada ao logotipo das argolas, um cruzamento entre Olimpíadas e Audi!).

Só muito mais tarde, já adulto, depois de muitas viagens pela Europa "civilizada", surgiu a oportunidade de desbravar essa realidade geográfica e cultural tão diversa da que conhecia até então. Corria o ano de 1998, e após uma primeira e épica visita à Roménia, em Maio, chegava a Varsóvia numa gloriosa manhã de verão, com o sol a dealbar por entre os seus arranha-céus, subindo as escadarias da estação de combóio Warszawa Centralna, qual casulo que se rompe para a jovem borboleta voar... Era a primeira paragem de um longo périplo se Inter Rail, uma que não mais seria esquecida!

Varsóvia mudou muito em década e meia. De capital comunista típica, cinzenta e anódina, passou hoje a uma cidade moderna, colorida e vivaz, com gente sofisticada e os grandes ícones globais presentes nas largas e rectilíneas avenidas, qual Fenix renascida após a hecatombe da II Guerra Mundial, que a arrasou. É uma cidade em que a cultura está presente a cada esquina, tal como a história recente, a julgar pelos memoriais aos heróis caídos em batalha, que se multiplicam aparentemente sem fim.

Por la ter vivido um ano, em 2000, é também um espaço cheio de recordações pessoais, de memórias que se vão perdendo na bruma da mente mas que deixaram marcas na pessoa que me tornei. Foi lá que a fotografia se tornou um hobby sério, que cimentei conhecimentos fundamentais para um percurso futuro que à época jamais pensaria possível.

Quem me conhece de perto sabe o quão especial está cidade se tornou para mim, e aqueles que partilham comigo as viagens a esta metrópole concordam, na sua maioria, que há algo nela que faz a visita valer a pena... O Pacto de Varsóvia é uma relíquia do passado, a Guerra Fria uma ameaça adormecida, mas o palco onde estes eventos tiverem lugar ali está, de braços abertos ao viajante, pronto para uma jornada de descoberta...