29.10.14

Lima (a das festas, não a das unhas, nem a da 7Up)



Após um périplo por temáticas amazónicas, regresso aos posts que acompanham a minha descoberta do iPhone como ferramenta fotográfica em viagem, e que cada vez mais o fazem assumir-se como máquina de backup à Fuji X100s (deixando a monstruosa DSLR D800 relegada à bolsa a grande maioria do tempo). Viajemos então para o Hemisfério Sul, para as margens do grande e Pacífico oceano, até à Plaza de Armas de Lima, capital do Peru.

Lima é uma cidade de extremos. Entre os quase 9 milhões de habitantes que se lá encaixam encontramos todo o tipo de gente: migrantes nativos, yuppies de Ferrari, estrangeiros de múltiplas nacionalidades, pessoas que inventam o impossível para sobreviver ao quotidiano, uma classe média considerável, numa metrópole enorme, em área, que se desenvolve pela planura estéril até ao Pacífico, naquela que é a segunda maior cidade nascida num deserto, a seguir ao Cairo!




Confesso: não é a mais atraente das capitais sul-americanas, partilhando com elas diversos traços comuns: o caos no trânsito, o ruído constante, a neblina poluída e uma sujidade difícil de esconder e que empresta à paisagem urbana um tom cinzento que quase uniformiza o que a vista alcança. Mas é um outro lado que eu prefiro recordar: a multitude de rostos diferentes, as peles acobreadas e os olhos rasgados, as cores infinitas nos trajes, nas placas das lojas, nas chapas onduladas de tanta batidela dos carros, carrinhas, autocarros e camiões que parecem vir sabe-se lá de onde, num vai-vem de formiguinhas que nunca acaba. 

Na minha última visita à cidade, em finais de Julho, tive a felicidade de coincidir com as Fiestas Pátrias, o feriado nacional. "Feriado", entenda-se, são duas semana de festividades de todos os tipos e feitios, como se fosse precisa desculpa para os sul-americanos festejarem o que quer que seja! 28 de Julho comemora a independência do Peru, firmada por José de San Martin, o herói da libertação de vários países vizinhos (menos conhecido mas com um papel muito semelhante ao de Simon Bolívar, contemporâneo e, nos últimos anos da luta, seu aliado).

Pelas grandes avenidas os desfiles rivalizavam em dimensão, sonoridade e vivacidade cromática! Mas é nas ruelas que se prepara a magia, em complexos preparativos com coreografias de dezenas de pessoas a ser ensaiadas, com as respectivas maquilhagens, brincadeiras entre crianças, sem esquecer as pausas para uma cervejinha, longe do olhar do público que bordeja a praça central, algumas ruas acima, aos milhares, nas escadarias da catedral e do palácio do governo.

Embora definitivamente eu não seja um homem de multidões, há algo profundamente cativante nos ajuntamentos humanos. É talvez o facto de, paradoxalmente, me sentir quase invisível, o sonho de qualquer fotógrafo. Precisamente por estar no meio de tanta gente, tornamo-nos anónimos, um num milhão. Como, noutro contexto, terá dito friamente Estaline: “Uma morte é uma tragédia. Um milhão de mortes é uma estatística”.




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