11.11.14

Pérola andina




Taquile.

Um nome que não fazia parte do meu léxico até há um ano atrás, passou em Janeiro de 2014 a integrar um mundo a que chamo próprio, quiçá abusivamente. E estou quase, quase de partida para lá, regressando num pequeno barco que flutua nas águas límpidas do Titicaca, esse sim, um topónimo globalmente reconhecido. Taquile é uma das ilhas peruanas do mais alto lençol de água navegável do mundo, e cheguei às suas margens enquanto lider Nomad, na companhia do Inácio Rozeira e de um grupo de viajantes ávidos por conhecer a realidade quotidiana desta zona do mundo. A receber-nos, Elias, um bonacheirão homem da minha idade, pele escura, ampla presença. É um dos líderes da sua comunidade, posto atestado pela indumentária garrida, e é quase com postura de estadista que nos recebe. O orgulho com que conduz os convidados pelos caminhos empedrados da ilha – não há automóveis na ilha – é visível, subindo sem esforço uma empinada encosta que a nós, desabituados das altitudes a beijarem disfarçadamente os 4000m de altitude, nos ruboriza a face e aumenta o ritmo cardíaco.


Na Plaza de Armas (é o equivalente à Praça da República em Portugal ou às Plazas Mayores de Espanha, toda a terrinha tem a sua), o cenário é completamente diferente do habitual: dezenas de homens e mulheres, vestidos com trajes multicolores, encenam uma cavalgada, numa dança de roda ricamente coreografada, com a ilha em peso a assistir, desde os infantes aos anciãos. Num dos lados da praça as personalidades perfilam-se, cada um com a sua esposa, também eles envergando as vestes tradicionais de Taquile, um dos motivos pelos quais o folclore insular foi classificado como Património da Humanidade. Elias toma o seu assento entre os ilustres.




Para um fotógrafo, é o cenário perfeito: cor, forma, cenário, exotismo, num cocktail visual de difícil descrição. Demasiado bom, dir-se-ia. O cosmos rapidamente se encarregou de restabelecer a ordem, para meu desespero: a segunda bateria da máquina esgotava-se-me por entre os dedos, após 2 dias sem acesso a electricidade que me permitisse carregá-la... Esse é, de facto, o grande calcanhar de Aquiles da Fuji X100s: uma autonomia verdadeiramente atroz, a que se junta um tempo de carregamento igualmente mau! Entrou em acção a máquina de backup – iPhone! A luz era excelente, céu límpido mas com um sol não demasiado forte. E assim continuei naquele final de manhã, calmamente de telemóvel em punho, sentindo a vibração da música repetitiva, ritmada, encantadora, pílula mágica a transportar-me para o mundo das Misteriosas Cidades de Ouro, uma das séries de desenhos animados preferidas da minha infância, que me fazia voar nas asas do fantástico condor de ouro, sulcando os céus andinos ao dealbar do sol - precisamente o mesmo sol que, ali, em pleno Titicaca, me aquecia a pele, num passe de ilusionismo imperceptível...


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