Cui.
Não, não me enganei na grafia. É mesmo cui. Uma
“especialidade” da gastronomia peruana que deixará sideradas
algumas almas mais sensíveis. Pelas nossas bandas tem um outro nome:
Porquinho da Índia. Aquele bicharoco fofinho e peludo que
encontramos à venda em lojas de animais domésticos, parente
gorducho dos hamsters. Pois bem, os peruanos também gostam muito
deles... no espeto! E a sua produção é um negócio sólido, com
vastas quintas de criação que se assemelham a aviários a colorirem
a paisagem de beira-estrada de tempos a tempos, anunciadas por
outdoors com desenhos dos ditos cuis a ilustrarem, aparentemente alegres, a publicidade às
respectivas empresas.
Sendo um prato tradicional do Peru, e como líder da
viagem Nomad à América do Sul, não poderia deixar de proporcionar esta experiência
aos nossos viajantes. Mas, a bem da autenticidade, tive também de o
provar! Uma vez que a minha apetência por carne é cada vez mais
diminuta, dadas as assustadoras condições de criação animal, e
porque - como a maioria dos ocidentais – não consigo deixar de
nutrir uma certa simpatia por estes roedores (vivos!), a empreitada
revelava-se séria! O momento fatídico aconteceria em casa do Elias,
de que já vos falei, aquando da minha primeira visita, com o Inácio
Rozeira. Para os naturais de Taquile cui é algo de que se ouve
falar, mas não se come, dado o preço proibitivo para a sua economia
de (quase) subsistência. Assim, combinámos previamente que haveria
cuis para todos, com fartura. Chegados à cozinha, esperava-nos uma
imagem que mais fazia lembrar o cenário do clássico filme de terror
Saw! Corpos esfolados de porquinhos da Índia numa grande bacia,
abertos em dois, com uma angelical tonalidade rosácea. Ao lado de
amplas frigideiras, que a eles se destinavam!
Não poderia ser menos apetecível... Mas o ímpeto
da descoberta cultural lá me impeliu, e depois de várias tentativas
frustradas – as brasas teimavam em não conseguir superar a chuva
que as apagava, o que levou o Elias a contrariar às escondidas o
Inácio e a fritar a carne mal passada nas tais frigideiras – os
ditos cuis chegaram à mesa em rotundas bandejas!
Entre rolares de olhos, sorrisos amarelos e narizes
torcidos, todos se foram servindo, timidamente... Conclusão do
primeiro round: cui não é grande petisto!
Fast forward para meio ano depois: na minha segunda
visita ao Peru, repetimos a dose de cui. Preparado desta vez segundo
a sabedoria local. Ou seja, primeiro cozidos, e depois fritos. Assim,
admito, ficam mais crocantes e apetitosos. Vagamente parecidos a
codorzines. Seja como for, não o suficiente para figurarem na minha
lista de petiscos imperdíveis. Para a semana há mais! (e desta vez espero que sem os efeitos colaterais capilares visíveis na foto abaixo!!! :)
Esta e outras especialidades gastronómicas peruanas podem ser experienciadas ao vivo e a cores na viagem Nomad "Do Machu Picchu ao Salar de Uyuni"
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