10.12.14

Cui. O primo peruano do hamster



Cui.

Não, não me enganei na grafia. É mesmo cui. Uma “especialidade” da gastronomia peruana que deixará sideradas algumas almas mais sensíveis. Pelas nossas bandas tem um outro nome: Porquinho da Índia. Aquele bicharoco fofinho e peludo que encontramos à venda em lojas de animais domésticos, parente gorducho dos hamsters. Pois bem, os peruanos também gostam muito deles... no espeto! E a sua produção é um negócio sólido, com vastas quintas de criação que se assemelham a aviários a colorirem a paisagem de beira-estrada de tempos a tempos, anunciadas por outdoors com desenhos dos ditos cuis a ilustrarem, aparentemente alegres, a publicidade às respectivas empresas.

Sendo um prato tradicional do Peru, e como líder da viagem Nomad à América do Sul, não poderia deixar de proporcionar esta experiência aos nossos viajantes. Mas, a bem da autenticidade, tive também de o provar! Uma vez que a minha apetência por carne é cada vez mais diminuta, dadas as assustadoras condições de criação animal, e porque - como a maioria dos ocidentais – não consigo deixar de nutrir uma certa simpatia por estes roedores (vivos!), a empreitada revelava-se séria! O momento fatídico aconteceria em casa do Elias, de que já vos falei, aquando da minha primeira visita, com o Inácio Rozeira. Para os naturais de Taquile cui é algo de que se ouve falar, mas não se come, dado o preço proibitivo para a sua economia de (quase) subsistência. Assim, combinámos previamente que haveria cuis  para todos, com fartura. Chegados à cozinha, esperava-nos uma imagem que mais fazia lembrar o cenário do clássico filme de terror Saw! Corpos esfolados de porquinhos da Índia numa grande bacia, abertos em dois, com uma angelical tonalidade rosácea. Ao lado de amplas frigideiras, que a eles se destinavam!




Não poderia ser menos apetecível... Mas o ímpeto da descoberta cultural lá me impeliu, e depois de várias tentativas frustradas – as brasas teimavam em não conseguir superar a chuva que as apagava, o que levou o Elias a contrariar às escondidas o Inácio e a fritar a carne mal passada nas tais frigideiras – os ditos cuis chegaram à mesa em rotundas bandejas!

Entre rolares de olhos, sorrisos amarelos e narizes torcidos, todos se foram servindo, timidamente... Conclusão do primeiro round: cui não é grande petisto!




Fast forward para meio ano depois: na minha segunda visita ao Peru, repetimos a dose de cui. Preparado desta vez segundo a sabedoria local. Ou seja, primeiro cozidos, e depois fritos. Assim, admito, ficam mais crocantes e apetitosos. Vagamente parecidos a codorzines. Seja como for, não o suficiente para figurarem na minha lista de petiscos imperdíveis. Para a semana há mais! (e desta vez espero que sem os efeitos colaterais capilares visíveis na foto abaixo!!! :)

Esta e outras especialidades gastronómicas peruanas podem ser experienciadas ao vivo e a cores na viagem Nomad "Do Machu Picchu ao Salar de Uyuni"

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