22.3.15
Elba
Mais de 1000km de extensão, atravessando 4 países, naquela que é a quarta maior bacia hidrográfica da Europa e na qual habitam 25 milhões de habitantes. Números impressionantes em torno de uma palavra que tanto tem de singelo quanto de harmonioso: Elba. E é já perto do seu estertor final, numa batalha desigual com o Mar do Norte, que este grande curso de água banha Hamburgo, plano e tranquilo, dolentemente caminhando para Nordeste, contorcendo-se entre os muros de um porto que recebe os maiores navios do mundo, apesar de ter ainda por vencer 100km até à costa...
No coração da grande cidade, o Elba é um espaço deveras interessante. Pela frescura da aragem. Pela largura da paisagem. Pela candura da plumagem das imensas gaivotas que cirandam acima de mim, em círculos imperfeitos. A lufa-lufa quotidiana não pára. Entre barcos de dimensões inimagináveis, pequenos botes que negoceiam a ligeira ondulação e muitas, muitas embarcações de transporte de passageiros, ao olhar não falta motivo de atenção.
Tenho, já o disse aqui, um fraco por navegar de barco. Há algo intemporal neste meio de transporte, um encanto indizível na inconstância do convés, no ronronar do motor, na infinita fluídez sobre a qual se paira. E por isso não pude deixar de aproveitar para andar num dos muitos "autocarros aquáticos" da cidade, que funcionam tal e qual um outro transporte público, com as mesmas senhas e tudo! E foi interessante ver como, efectivamente, não se trata de um luxo mas sim de um funcional elemento do urbananismo da cidade, aproveitando o rio como alternativa às ruas congestionadas e libertando-as para os cidadãos.
E até uma praia há em Hamburgo! Com areia de verdade! Onde se vêm muitos casais de mão dada, olhando o universalmente kitsch - mas ainda assim romântico - por-do-sol, enquadrado no horizonte por disformes gruas e guindastes. Mas as deambulações nas redondezas do porto não se finam com a luz solar. A noite não abranda o ritmo, e é por baixo de terra que atravesso para a outra margem. Sigo por um apertado túnel, famoso pelo feito de engenharia que constituiu ao ser aberto, em 1911. Um século depois segue em funcionamento, sendo mais popular para ciclistas e peões que para veículos, que têm de ser elevados de ascensor até ao nível superior. Para as poluentes máquinas há hoje um outro túnel, mais moderno e funcional que, na prática, é a forma mais expedita de atravessar para o outro lado. E é precisamente na margem oposta, após subir as escadas de desenho industrial, que toda a cidade se revela, à distância, iluminada, duplamente aumentada pelos reflexos dourados na superfície do rio...
A humidade entranha-se nos ossos, e um arrepio percorre-me de cima a baixo, qual gume afiado a roçar a pele, talvez pelo facto de pisar solo em tempos consagrado à máquina de matar nazi. Recomponho-me. E despeço-me do Elba.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Todas estas fotos são de Hamburgo ou fizeste um cruzeiro maior no Elba (entre que cidades) ?
ResponderEliminarAbraço,
Filipe
Olá Filipe. Tudo em Hamburgo. Abraço!
ResponderEliminar