29.3.15

O centro do Mundo


Haverá algum local que possamos considerar o centro do Mundo? Washington, talvez, pelo peso político actual dos Estados Unidos? Nova York, pela dominância do capital? Shangai, a mais populosa urbe chinesa, a emergente potência global? Ou será o nosso lar, pessoal e intransmissível, onde nos sentimos (n)o centro do mundo?

Visitei recentemente um outro possível umbigo terrestre (ou pelo menos europeu): Genebra. E porquê o poderá ser? Porque é lá que, numa reduzida área urbana, estão localizadas várias das mais importantes instituições mundiais, incluindo a única que, quiçá, se aproxima verdadeiramente do ideal humanista de que todos os homens são iguais: a Organização das Nações Unidas. Não nos iludamos, claro. O papel da ONU tem vindo a ser alvo de duras críticas ao longo dos anos. É sabido que é palco de múltiplas jogadas geo-políticas, que é o ringue onde diferentes potências se degladiam até à exaustão, que a hipocrisia de regime grassa sem limites, que permitiu, pela sua passividade, massacres e genocídios. Este é o copo meio vazio. O copo meio cheio é que foi graças a ela que paises viram a paz chegar (recordemos o caso de Timor-Leste) ou que, melhor ou pior, longos conflitos foram sarados ou pelo menos amenizados...

Percorri numa manhã soalheira o "bairro das nações". Para além da ONU, a UNICEF, a Organização Internacional do Trabalho (OIT), a Organização Mundial de Saúde (OMS) ou até a mais pérfida Organização Mundial do Comércio (OMC) alinham-se em torno do tranquilo jardim botânico de Genebra em edificios espelhados, com o extenso lago Léman a seus pés, de onde os picos nevados dos Alpes se avistam, coroados, em dias de bom tempo, pela silhueta imponente do Monte Branco. Um bairro onde a cor tem rosto e se move livremente: aqui o amarelo, o branco, o preto e o castanho passeiam-se, em pé de igualdade, verticais, orgulhosos da sua herança genética e cultural.




É nestas paredes, dentro destas janelas, sentados àquelas cadeiras que nalguns casos se vêm do exterior que parte dos destinos do mundo são decididos. Muitas vezes por pessoas desligadas desse mesmo mundo real, que vivem numa realidade paralela, onde as luzes orientadoras são o lucro e a sede de poder, em vez do bem-estar comum. Mas, num acesso de esquizofrenia global, é também lá que tem lugar uma lide quase tauromáquica por ideais que, quero acreditar, norteiam pelo menos alguns dos funcionários e personagens deste quartel-general da espécie humana.




Após algumas horas de deambulação despeço-me daquelas avenidas largas, em direcção ao centro histórico de Genebra - a mais cara cidade do mundo - onde o brilho dos diamantes, o refulgir dos relógios e ronco dos motores de alta cilindrada me agitam, num inevitável choque cultural com o que há muito pouco havia sentido, ao percorrer um dos mais pobres países deste mesmo mundo...


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