5.4.15

Lambendo montras

Certo, concedo que não seja a mais elegante das expressões que a língua de Camões nos proporcionou. Mas foi precisamente isso que presenciei, em Genebra, ao sair do bairro das Nações, aterrando de chofre na "mais cara avenida da mais cara cidade do mundo"! Esta informação, de objectividade absoluta relativa mas de certeza não muito longe da verdade, foi-me facultada por um dos inúmeros emigrantes portugueses que encontrei, ao perguntar onde poderia comer bem e barato nas redondezas... Embora não esperasse outra resposta, o enfático "- Aqui, em lado nenhum!" foi esclarecedor.



Genebra, a sede de ícones do luxo mundial como a Rolex, é de facto uma das cidades mais estratosféricas a este respeito que até hoje visitei. Em trânsito para o coração dos Alpes, onde os cenários naturais e sociais seriam radicalmente diferentes, o meu objectivo foi simplesmente sentir o pulsar da cidade nas suas ruas e avenidas, nos seus cafés e esplanadas e nos seus rostos, mais multiculturais do que imaginara para uma urbe suiça...

Não pude deixar de me sentir chocado com as etiquetas de certos produtos, tão superficiais como desnecessários. A certa altura o passatempo era descobrir o relógio mais caro possível (confesso desde já que uma das minhas incongruências éticas é a pouco original atracção masculina por máquinas de dizer o tempo.  Mas a minha colecção é de exemplares baratos, ainda que isso não impeça a esquisitice de andar com um relógio em cada pulso (só em casa e para lhes dar corda, são automáticos!). Voltando às margens do lago Léman, Geneva ou Genfersee, consoante o cantão de origem do autóctone que nos informar, o meu record para o dia foi €99600, precisamente de um Rolex piroso, cheio de coisas brilhantes que nem as horas deixava ver decentemente! Talvez não houvesse espaço para mais um dígito... deve ser por isso que fizeram a simpatia de não ultrapassar a barreia psicológica da centenas de milhar de € por um objecto cuja função se consegue... gratis, para dizer a verdade, no telemóvel!



Seja como for, a cidade é harmoniosa. A catedral de St. Pierre, encimando uma colina, tem na Capela dos Macebeus, forrada a madeira, um conjunto de vitrais harmonioso. A zona da Mairie (Câmara Municipal), e o parque que se estende abaixo são convidativos, e algo menos formais que as ruas da baixa. Fotografei apenas com a Fuji X100s e o iPhone como vem sendo já hábito nestes périplos pelas urbanidades europeias. E, por umas horas, tive um vislumbre do que é ser ultra-rico. Não sei se me convence... Como li recentemente, nas palavras mundanas mas directas do repórter de viagens Tiziano Terzani: "- Os muito ricos são chatos! Andam permanentemente preocupados em guardar e aumentar a sua riqueza, pelo que não têm tempo para fazer coisas interessantes"!


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