18.6.13

A Madeira. E os seus túneis.


Túneis. Na Madeira há túneis. Muitos túneis!

E para todos os gostos: túneis compridos, túneis curtos. Túneis largos, túneis apertados. Túneis a direito, túneis cheios de curvas. Túneis a subir, túneis a descer. Túneis iluminados, túneis escuros. Túneis sofisticados, túneis toscos. Não sei se haverá zona do mundo com maior densidade de túneis por metro quadrado. Mas duvido! O buraco das finanças na Madeira é enorme. Mas nada comparável com a quantidade de buracos (também conhecidos como túneis) que lá existem! É assinalável a evolução na qualidade de vida que tal representa, e apenas consigo imaginar o quotidiano há umas décadas atrás... Disseram-me que do Funchal a Porto Moniz, no extremo Noroeste da ilha, se chegou a demorar 8 horas em transportes públicos. Hoje, são pouco mais de 30 minutos, durante os quais, de tempos a tempos, se vislumbra a antiga estrada suspensa nas escarpas assustadoras... Como se não chegasse, e pela primeira vez na vida, vi um sinal de trânsito incentivando os automobilistas a andar depressa na estrada ("-Vá, pronto, andem depressa mas respeitem os limites", parece dizer...)!!!



Na Madeira, a orografia é rainha. E o Atlântico o monarca. Era uma falha grave no meu historial de viajante: apenas aqui havia estado duas vezes. A primeira, há 36 anos. Na barriga da minha mãe. Não me lembro de muito... A segunda, numa escala para a Venezuela, da qual recordo apenas a vista do aeroporto. Superficial, reconheço. Mas, finalmente, vim para ficar. Estive na ilha em trabalho, o que deixou apenas um dia para me aventurar fora do Funchal. Bem, nem a um dia chegou, foram mais exactamente 8 horas. E tinha que passar por percorrer a pé uma levada. Ir à Madeira sem caminhar numa levada é pior que ir a Roma e não ver o Papa!

E, assim que deixei o anfiteatro natural da capital, a montanha mostrou todo o seu esplendor! Apesar do capacete de nuvens que tapava as zonas mais altas das Encumeadas, a vista era deslumbrante, de um verde belo e pujante, mostrando densas manchas de floresta laurissilva, a jóia biológica do arquipélago e motivo da classificação pela UNESCO da Santana Madeira Biosfera. Já na costa Norte, a antiga estrada que serpenteia até Porto Moniz convida a ser percorrida a pé ou de bicicleta (a única forma possível hoje em dia). Mas é ao fugir das "vias rápidas" e túneis que encontramos a verdadeira genuinidade desta terra, que apenas sinto ter tocado ao de leve... À primeira placa de "levada", sai da estrada, sem saber muito bem para onde. Fiz parte da Levada do Rei. Sozinho, completamente! Regressei, porque tinha uma outra em mente - a que liga as Queimadas ao Caldeirão Verde. É absolutamente indescritivel o ambiente que se vivencia ali... Não fica atrás das paisagens neo-zelandesas onde a magia de Tolkien foi passada ao cinema! A vegetação densa, as árvores retorcidas, o vazio abaixo do trilho estreito que serpenteia ao sabor das curvas de nível caprichosas, numa obra de engenharia notável, atendendo sobretudo aos séculos que já conta...



O dia corria, saboroso, mas inexoravelmente a hora de partida do avião assomava por detrás de cada encosta, cada vez mais presente. Fiz contas, e achei que podia arriscar - tinha que ver essa "outra" Madeira, árida, amarela, quase roubada às paisagens das Canárias, arquipélago que, conjuntamente com os Açores e a Madeira, cria a Macaronésia. Faltava uma visita à Ponta de São Lourenço! E que cenário me esperava! O contraste não podia ser maior com a luxúria verde que deixara atrás há minutos! A paisagem apresentava-se espartana, despojada, depurada. O ocre tomando conta da retina, reforçado pelo sol cadente do final da tarde, onde apenas o azul intenso do mar o ousava desafiar! Diria que é atipico, este canto a leste. Mas não menos magnético...


Já a bordo do aeroplano branco e laranja, miro os contornos da ilha ao longe, engolida pelo escuro do mar à medida que me elevo na atmosfera. Penso que devia voltar... Não, tenho de voltar. Está decidido: vou voltar!


4 comentários:

  1. Boas António,

    Desde já os meus parabéns pelo seu trabalho!
    É bom saber que divulgam a nossa ilha da Madeira. Infelizmente, muitos não a conhecem mas deveriam, pois tal como presenciou, há muito a conhecer na ilha. Deveria voltar e trazer mais amigos :-)

    Boa sorte e continuação de bom trabalho!
    Victor Emmanuel

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    1. Voltarei certamente, e se possível acompanhado!

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  2. Um belo trabalho, para o tempo (curto) em que foi feito. Fiz esse percurso de que fala(Funchal - Porto Moniz) em Agosto de 1974 e devo dizer que foi uma experiência única, aterradora para alguns passageiros do autocarro. Já lá estive mais duas vezes, a última das quais numa passagem de ano. A Madeira é linda! Vale a pena uma visita demorada, desde o tecido urbano da Cidade Velha do Funchal, até outros lugares idílicos nela existentes.
    Um forte abraço

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    1. Pois, os últimos kilómetros da estrada antiga, entre São Vicente e Porto Moniz, fazem lembrar a "Estrada da Morte" nos Andes...!

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