6.1.15

Alternativas em Wayna Picchu



Alternativas.
São difíceis de buscar quando nos encontramos num dos ícones maiores - se não mesmo o maior - da arqueologia mundial. Machu Picchu! A escala é avassaladora, as formas materializam-se diante dos meus olhos num jogo intangível de toca-e-foge entre os socalcos e a neblina omnipresente, que tanto oculta como desvenda, deixando na pele molhada por milhões de gotas de chuva uma indescritível sensação de imponderabilidade... 

O amanhecer, encenado diariamente - até à exaustão, até à perfeição - pela divindade maior dos Incas, o Rei Sol, brinda-me como nunca o vira, em três visitas à cidade imperial: fresco, etéreo, dourado, como se alguma entidade maior tivesse decidido que o merecia, que seria digno de o apresentar a um dos meus grupos Nomad, a razão da minha presença aqui. Neste papel, uma das minhas prioridades é proporcionar experiências, experiências o mais únicas possível. Machu Picchu é, sem dúvida, uma, por si só. Mas não estamos sós. Longe disso! Diariamente são milhares de pessoas que trilham aqueles degraus, que fotografam até à exaustão a cidadela com a montanha perfeita em fundo, o pico Wayna Picchu. É aqui que a diferença começa. Apenas 400 pessoas conseguem os almejados bilhetes que permite a subida até aos 2693m de altitude, oferecendo aos eleitos à vista de condor sobre todo o complexo, desde a Porta do Sol, à esquerda, até à ponte Inca, do lado oposto, com a zona dos templos e a casa do Inca entre ambos. A subida é intensa, áspera, embora não demasiado longa. A humidade sente-se a cada passo, a altitude também. Lá em cima, uns apertados socalcos quase parecem fazer troça de nós, desafiando-nos a alcançá-los sem demora. Entre a espessa vegetação da selva e as falésias cortadas com uma precisão sobrenatural, chego ao topo, na companhia de um afogueado grupo. A vista é deslumbrante, arrebatadora, quase chocante de tão bela, mas quase me coíbo de esboçar uma descrição por palavras, por tão incompleta e sempre insuficiente que será... Mas o desafio ainda só havia sido meio-alcançado. Faltava descer. E poderíamos fazê-lo da forma simples, normal. Chegaria para a maioria.


Mas não para mim. Nem para o grupo que liderava nesse dia. Virando costas às ruínas, empreendemos um longo regresso, pelo trilho do Templo da Lua, um incompleto complexo cerimonial encaixado numa gruta. Em vez dos 45 minutos habituais, esperavam-nos 3 horas de carrossel montanhoso, com descidas e subidas constantes, escadas de madeira periclitantes, veredas enquadradas por árvores de aspecto tão antigo quanto o das ruínas com as quais convivem há séculos. Quando já pensávamos estar a chegar, mais uma empinada subida nos desenganava. Lentamente, degrau a degrau, conquistados à custa de gotas de suor salgado que escorriam até lábios entreabertos de admiração, aproximamo-nos das ruínas, cheias de cores das indumentárias internacionais de muita gente, cada um a cumprir o sonho à sua maneira... 


Até nos locais mais famosos do mundo há alternativas. Estão apenas à espera de serem descobertas. E o seu encanto mantém-se, talvez precisamente por isso...


2 comentários:

  1. Anónimo15.1.15

    Em Julho, estarei contigo! Está confirmado!
    Boa viagem
    grata
    Ana Ferraria

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